O
professor integra a equipe da Univasf (Universidade Federal do Vale do
São Francisco), em Petrolina (PE), contratada pelo governo federal para
fazer o inventário da flora e da fauna ao longo de todo o trecho da
obra.
O
resultado encontrado no rio e nos 469 quilômetros de canais está no
livro "Floras das Caatingas do Rio São Francisco: História Natural e
Conservação" (Andrea Jackobsson Estúdio). Leia os principais trechos da
entrevista.
Folha
- O título do primeiro capítulo do livro assusta: "A extinção
inexorável do rio São Francisco". Como vocês identificaram esse processo
e por que o consideram inexorável?
José Alves Siqueira -
Eu fiz uma pesquisa minuciosa sobre todos os problemas históricos que
ocorreram no São Francisco desde o seu descobrimento. A gente teve um
dos rios mais piscosos do país. Com as barragens [Três Marias,
Sobradinho, Paulo Afonso e Xingó], a gente perdeu todos aqueles peixes
que sobem as corredeiras para se reproduzir. O São Francisco é o rio
mais barrado do Brasil.
Se as coisas continuarem do jeito que estão, quanto tempo o São Francisco ainda tem?
A gente não tem como fazer um cálculo preciso. O processo está em curso, o rio está sofrendo profundamente com o desmatamento de suas matas ciliares.
A gente não tem como fazer um cálculo preciso. O processo está em curso, o rio está sofrendo profundamente com o desmatamento de suas matas ciliares.
Qual a participação da transposição neste processo?
Existe
um passivo ambiental da obra, em torno de R$ 20 milhões, R$ 25 milhões.
Esse recurso deve ser usado para implementar unidades de conservação.
Podemos transformar o problema da transposição numa oportunidade.
Na prática, como a obra da transposição está colaborando com o processo?
Ainda não temos as respostas claras. A gente encontrou 62 espécies exóticas invasoras, que não são da flora brasileira, já nas áreas do canal. Quando ela [a invasora] chega, ocupa espaço de espécies nativas e provoca destruição das outras.
Ainda não temos as respostas claras. A gente encontrou 62 espécies exóticas invasoras, que não são da flora brasileira, já nas áreas do canal. Quando ela [a invasora] chega, ocupa espaço de espécies nativas e provoca destruição das outras.
O senhor é favorável à obra?
A
gente não está discutindo se é a favor ou contra porque a obra já está
em curso. Hoje o nosso papel é tentar mitigar os impactos. Os impactos
existem. [Mas] o que a gente pode fazer para tornar isso razoavelmente
viável?
O senhor fala que ainda tem muito a se avançar nesse processo de mitigação dos impactos. Como?
Algo
para ser feito em caráter emergencial [é] a implementação dos programas
de recuperação de áreas degradadas. As grandes empreiteiras têm
obrigação de implementar esses planos de recuperação. Isso não está
acontecendo. Quando oferecem a possibilidade de fazer, fazem com
espécies exóticas invasoras. A gente tem um conjunto de oportunidades
que não pode perder vista. Não teremos uma segunda oportunidade. Não há
nada de sensacionalista nisso. Não é uma crítica gratuita.
Qual o papel dessa estiagem prolongada no Nordeste neste processo de extinção do rio?
É
mais um agravante porque a demanda por água aumenta. Os bancos de areia
no São Francisco estão cada vez maiores. A gente está vivendo um
processo de aquecimento global e a caatinga é o lugar do Brasil mais
suscetível a essas mudanças climáticas.
Fonte: Interior da Bahia.
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