sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Em seu centenário, Jorge Amado é lembrado em Ilhéus e em todo o Brasil

Jorge Amado, o escritor brasileiro mais universal, romancista que retratou como ninguém a realidade e a alma dos habitantes da Bahia, sua terra natal, está sendo homenageado e lembrado em várias homenagens no centenário de seu nascimento.

Amado, nascido em 10 de agosto de 1912 na Fazenda Auricídia, em Itabuna, no sul da Bahia, era filho de João Amado de Faria, fazendeiro do cultivo de cacau, um universo que marcaria sua vida e que está presente em suas obras.
"Cacau" é justamente o título de seu segundo romance, publicado em 1933, três anos depois de "O País do Carnaval", que o lançou como escritor.
Realista, irônico, arquiteto detalhista de perfis psicológicos de personagens inesquecíveis, Amado, que faleceu em Salvador uma semana antes de completar 89 anos, em 6 de agosto de 2001, deixou em sua obra um forte conteúdo ideológico de denúncia social contra as injustiças de sua época e de sua terra.
Usando uma linguagem ensolarada, o autor deslumbra qualquer leitor que se aproxime de uma de suas obras e até a pessoa mais distante da realidade brasileira se vê embebida nas vivências de camponeses maltratados, de negros e mulatos discriminados e da opulência desmedida de coronéis latifundiários.
Esse artesão da palavra, que se formou advogado em 1935 no Rio de Janeiro - então capital do país - foi, além de um criador prolífico, militante comunista, o que o levou a ser preso e, mais tarde, entre 1941 e 1942, buscar exílio temporário na Argentina e no Uruguai.
O baiano voltou ao país em 1944 e no ano seguinte foi eleito membro da Assembleia Nacional Constituinte pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB), mas três anos depois, devido à perseguição política, tomou novamente o caminho do exílio, dessa vez na França e depois na antiga Tchecoslováquia.
Apesar das perseguições, Amado amadureceu como escritor e, em 1944, publicou "Terra do Sem-Fim", um de seus livros mais emblemáticos,em que descreve com detalhes a vida de desgosto e trabalho pesado dos peões das plantações de cacau.
"Dona Flor e Seus Dois Maridos", um de seus romances mais populares, foi levado ao cinema em 1976 por Bruno Barreto, consagrando para sempre seus personagens e gerou um dos filmes mais divertidos do cinema brasileiro.
O livro, que combina a imaginação e o humor de maneira inigualável, transformou uma pequena e concreta realidade, a de Salvador, em algo universal.
Cor de canela
Os textos de Amado descrevem de forma sublime a sensualidade de personagens já icônicos como Gabriela, talvez a mulher mais sedutora nascida da imaginação do autor.
"Gabriela cheira a amor, Gabriela tem cor de canela", declarou há 15 anos o escritor sobre o personagem principal de um dos mais bem-sucedidos de seus 36 livros, "Gabriela, Cravo e Canela" publicado em 1958 e traduzido para 35 idiomas.
A história de Gabriela se passa na década de 1920 em Ilhéus, cidade que foi cenário de várias de suas narrativas, e se situa nos tempos dourados que a região viveu quando foi uma das maiores produtoras de cacau do mundo.
Amado recria a chegada da ferrovia a esse pequeno porto devido à prosperidade nascida do cacau, que leva a florescer os negócios, os bancos e até os bordéis, e mostra a face mais corrupta, ambiciosa e insensível dos caudilhos da zona.
Não por acaso Ilhéus, esse pequeno povoado rural do sul da Bahia, onde o autor cresceu como artista, preparou para 2012 uma programação cultural robusta para preservar seu legado e celebrar seu centenário.
Uma caminhada pela Ilhéus de hoje permite ver o casario de estilo colonial de cores vivas como vermelho, amarelo e azul, que seu pequeno centro urbano esconde.
Lugares eternizados pelo autor em suas histórias, como o antigo bordel Bataclã, onde os fazendeiros baianos traíam suas esposas enquanto elas iam à missa, agora transformado em restaurante, mantêm vivo o espírito de Amado e de seus personagens com espetáculos de teatro e baile inspirados no eterno escritor.
Construções como a suntuosa catedral de São Sebastião, de inspiração neoclássica com um pórtico de grandes colunas e cores frias, são palco de alguns dos romances. Os ricos produtores de cacau construíram um passadiço do Bar Vesúvio, que continua no mesmo lugar, até a catedral, em frente, para poder despistar suas mulheres, ir ao bar e voltar antes do final das cerimônias sem serem descobertos.
Essas dissimulações e outras picardias da elite da população baiana foram por várias décadas objeto do olhar irônico de Amado.
No terraço do Bar Vesúvio, de paredes azuis, onde o romancista se dedicava a ler e escrever, hoje pode se ver uma estátua em homenagem ao autor em tamanho real, sentada à mesa que ele costumava ocupar.
Ligação com Ilhéus
Ilhéus está intimamente ligada ao escritor e conserva intacta a casa onde ele viveu, um casarão onde Amado escreveu seu primeiro livro, que foi transformado em museu e fundação cultural.
O prefeito da cidade, Milton Lima, disse à Agência Efe que Amado "é filho da região" e que graças a ele a cultura, a história, a gastronomia e as belezas naturais da Bahia foram reveladas ao mundo.
"Meu avô levou Ilhéus para o mundo e Ilhéus levou meu avô para o mundo", resumiu, por sua vez, Jorge Amado Neto, um de seus netos, que está envolvido na preparação das celebrações. "Essas ruas transformaram em escritor o grande Amado, que segue vivo com seus personagens e seus novos leitores", disse.
Até o fim deste ano, o Brasil celebrará a palavra do escritor que, apaixonado pelo povo, retratou personagens que permanecem gravados na memória dos brasileiros graças, em parte, às adaptações ao cinema e à televisão.
Um dos pontos altos da programação do centenário será a estreia, em outubro, do filme "Capitães de Areia", adaptação do romance homônimo de Amado assinada por sua neta Cecília.
Jorge Amado não foi agraciado com o Prêmio Nobel, mas recebeu premiações internacionais na antiga União Soviética, na França, na Itália e na Bulgária, assim como honrarias em vários países, incluído um doutorado honoris causa na Sorbonne.
Além disso, durante 40 anos, o autor foi membro da Academia Brasileira de Letras, reconhecimento por seu legado literário, traduzido para nada menos que 50 idiomas.
Fonte: msn noticias.




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